Recentemente, li um artigo muito interessante, produzido pela Mckinsey & Company, dos Estados Unidos, que abordava a criação de valor nas empresas de transporte e logística.
O artigo, baseado em pesquisas e análises nos últimos 10 anos, concluía que o setor possuía uma taxa de lucratividade menor do que outras indústrias (cerca de 30%). Contudo, existiam empresas com indicadores acima da média. Isto basicamente estava relacionado à criação de valor que elas conseguiam gerar, ou seja, há espaço para crescer e lucrar mesmo em um mercado com menores taxas de retorno.
Em paralelo, o estudo apontava sete megatendências em logística, são elas:
1. Megacidades e a forma como os mercados serão atendidos.
2. Bolsões regionais de crescimento que impactarão o desenvolvimento orgânico das empresas de logística (novas regiões e mercados locais em evolução).
3. Transporte compartilhado (parcerias, joint ventures)
4. Inovação tecnológica disruptiva (novas formas de rastreamento, evolução da internet das coisas).
5. Desafio das escolhas de investimentos em ativos (melhorar a performance financeira e o ROI das empresas).
6. Mudanças constantes do ambiente regulatório (principalmente sustentabilidade).
7. Aumento da volatilidade da demanda (tendência crescente nos consumidores – mais produtos, mais marcas, mais variedade).
Estes desafios são conhecidos no Brasil, mas talvez, alguns pontos, estejam subestimados e, portanto, recebam pouca atenção das empresas.
Entretanto, cabe uma importante observação: tecnologia é a base de todos os processos citados e pilar fundamental, senão vejamos:
Megacidade: Tecnologias de roteirização e rastreamento são e serão fundamentais para as empresas atenderem demandas nas megacidades, tendo em vista o tráfego, os tempos de coleta e entrega, os incidentes etc.
Transporte compartilhado implica, no mínimo, na integração entre plataformas e sistemas diferentes, sem os quais, processos e informações não conseguem atingir a melhor performance e não fornecem informações decisórias.
Inovações disruptivas, como por exemplo uberização, serão fundamentais para atender clientes como eles querem ser atendidos.
Escolha de investimentos em ativos requer, no mínimo, ferramentas de informação gerencial para a tomada de decisão.
Ambiente regulatório, no Brasil, temos o chamado “e-gov”, que obriga as empresas a atenderem a legislação de forma eletrônica e isto exige mais e mais tecnologia.
Volatilidade da demanda é um enorme desafio que somente a tecnologia com informações gerenciais ou mesmo o Big Data para elucidar e fazer enxergar coisas “invisíveis” aos nossos olhos.
Isto posto, partimos da presunção de que o investimento número 1 das empresas de logística e transporte será em tecnologia, e partindo deste ponto é que podemos definir e criar valor no negócio e retorno para a empresa.
A partir dos processos de negócios e das tecnologias, devemos desenvolver novos processos e produtos/serviços que agreguem redução de custo e/ou aumento de receitas e rentabilidade, sempre sob a ótica de “fora para dentro” isto é, a partir do cliente final, pois em última instância, é este ele que em tese percebe valor. É muito comum agregarmos algum suposto valor em um processo ou produto/serviço que, de certa forma, impacta o cliente final negativamente. Isto não é valor, pode ser somente um elemento de redução de custo com degradação de qualidade.
Já a verdadeira criação de valor é a arte de melhorar a performance da empresa através da melhoria de processos, produtos e serviços disponíveis ao cliente.
O sucesso do Uber é um caso interessante. Certamente, não foram apenas as tarifas menores, em relação aos táxis, que geraram tantos clientes, mas uma combinação de qualidade e preço. O que de fato ocorreu foi uma inovação disruptiva, com uso intensivo de tecnologia para reduzir preços, aumentar a qualidade e atrair um enorme contingente de usuários, antes presos a um monopólio de transporte urbano.
A Toyota é outro exemplo, embora tenha claramente adotado uma estratégia de liderança de custo, foi seu processo produtivo, com busca de qualidade total, levado a extremos que reduziu custos com quebras e aumento da qualidade dos produtos. Para o consumidor foi fenomenal, pois pode adquirir veículos com as melhores performances de qualidade a preços de veículos “comuns”, orientados ao grande público.
Como recomendação, acredito que as empresas de todos os segmentos devam desde já, se já não o fizeram, estudar de forma séria a adoção de ferramentas de Big Data, ferramenta que poderá mudar a visão dos negócios e responder perguntas que sequer foram formuladas. Um recurso necessário para inovação e criação de valor.
Para concluir, notamos que o mundo caminha para o uso extremo de tecnologias, as transportadoras e operadores logísticos devem sempre buscar investir nas tendências, com olhar tecnológico, e buscar redução de custos sem impacto aos clientes. Deve ser um mantra, mas acima de tudo, se as empresas querem ter sucesso e se diferenciar no mercado, precisam melhorar processos, produtos e serviços que impactem positivamente seus clientes, o que trará maior fidelidade, resultados e valor à marca.
Carlos Maffei
Diretor comercial e de relacionamento da Benner.